A terapia cognitivo comportamental (TCC) é uma abordagem de tratamento psicológico, baseada na ideia de que pensamentos, emoções, sensações corporais e comportamentos estão conectados.
Considerando essa conexão, a TCC afirma que, se mudarmos uma dessas condições, podemos alterar as demais.
O foco da terapia cognitivo comportamental é auxiliar a pessoa a identificar pensamentos e comportamentos prejudiciais que, por sua vez, geram emoções e sensações desconfortáveis.
Mas por que a ênfase da TCC está no aspecto cognitivo (a forma como elaboramos nossos pensamentos) e no aspecto comportamental (nossas ações)?
Porque entende-se que a forma como interpretamos as situações influencia diretamente nossas emoções e nossas ações.
E claro que, modificar nossos sentimentos — como se tivéssemos uma chave para “ligá-los” ou “desligá-los” — não é algo que podemos fazer facilmente. Na verdade, esse tipo de controle sobre nossas emoções não é desejável, já que elas têm motivo para existirem e tem uma importância enorme na nossa autopreservação. Mesmo as emoções consideradas “negativas”, como a raiva e a ansiedade, por exemplo.
Por outro lado, a forma como pensamos sobre uma situação, ou como respondemos a ela, é algo que podemos alterar.
Certamente, também não é fácil modificar padrões de pensamentos e comportamentos, mesmo quando percebemos que eles nos causam problemas. Se você já tentou se livrar de pensamentos negativos ou de um comportamento compulsivo — usando apenas a “força de vontade” — sabe o quanto isso pode ser frustrante.
É justamente nesse ponto que a terapia cognitivo comportamental mostra sua funcionalidade. Afinal, a TCC entende que não basta reconhecer comportamentos e pensamentos disfuncionais. É preciso aprender a gerenciá-los, utilizando estratégias práticas e habilidades específicas, capazes de promover mudanças concretas.
O papel do psicólogo especialista em terapia cognitivo comportamental é apresentar ferramentas que, efetivamente, possam te auxiliar nesse processo.
Quando a TCC é indicada
A terapia cognitivo comportamental é indicada para tratar uma série de condições, incluindo:
- Transtorno bipolar;
- Transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
- Depressão;
- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT);
- Síndrome do pânico;
- Fobia social;
- Transtorno obsessivo compulsivo (TOC);
- Vício em internet;
- Gerenciamento de estresse;
- Problemas de raiva;
- Problemas de relacionamento;
- Insônia;
- Baixa autoestima.
Leitura sugerida: Como a terapia cognitivo comportamental trabalha a autoestima?
A TCC também é considerada uma opção eficaz para fornecer apoio psicológico perante determinadas condições médicas, como:
- Enxaqueca;
- Síndrome da fadiga crônica;
- Fibromialgia;
- Artrite reumatoide;
- Câncer;
- Hipertensão;
- Doenças coronarianas;
- Síndrome pré-menstrual;
- Síndrome do cólon irritável.
Embora a TCC não possa curar os problemas físicos resultantes dessas condições, ela pode trazer grandes benefícios ao auxiliar as pessoas a lidar melhor com seus sintomas.
Características de terapia cognitivo comportamental
Então, será que a TCC é para você? Essa abordagem corresponde ao que você espera obter ao fazer terapia?
Conhecer as características fundamentais da TCC será muito útil para orientá-lo em sua decisão.
Veja, abaixo, um resumo dos aspectos da terapia cognitivo comportamental que você deve ter em mente ao considerar o tratamento:
1. As sessões de TCC têm foco nos problemas atuais do paciente
O objetivo central da TCC é tratar os problemas e sintomas que são percebidos no presente.
Ou seja, esse tipo de terapia não pretende resolver problemas passados, que não o incomodam hoje em dia, mas sim auxiliar o paciente a lidar melhor com pensamentos, emoções e comportamentos que causam transtornos à sua qualidade de vida no “aqui e agora”.
No entanto, isso não significa que o terapeuta irá ignorar a história de vida do paciente. Ao contrário, o psicólogo sempre buscará entender como as experiências passadas podem originar formas de pensar e agir que se perpetuam. E claro, como muitos problemas do passado continuam causando sofrimento atualmente, todos eles serão atentamente investigados.
Por exemplo, ao identificar tendências perfeccionistas ou sinais de baixa autoestima crônica (complexo de inferioridade), o terapeuta buscará, junto ao paciente, compreender como tais crenças e interpretações se estabeleceram.
Contudo, a TCC percebe que o motivo de origem do problema (educação muito rígida na infância, por exemplo) é diferente do que mantém uma condição no presente (comportamentos de evitação e procrastinação, por exemplo).
Por isso, as estratégias da TCC visam lidar com os sintomas incômodos observados no dia a dia, a fim de promover mudanças no presente — já que é só nesse tempo que podemos, de fato, atuar.
2. A terapia cognitivo comportamental é empírica
Dizer que a TCC é empírica significa afirmar que os tratamentos propostos por esse tipo de terapia são baseados em evidências científicas, que comprovam sua eficácia.
As ferramentas aplicadas pelo terapeuta são rigorosamente testadas em ensaios clínicos, seguindo o mesmo princípio de estudos aplicados na avaliação da efetividade de medicamentos.
Além disso, a TCC é empírica porque o tratamento é constantemente monitorado, sendo que psicólogo e paciente observam os resultados concretos das estratégias adotadas para lidar com o problema, avaliando quais estão funcionando melhor.
Leitura sugerida: Bullet journal: um guia para você começar seu diário em tópicos (que pode ser utilizado como ferramenta auxiliar na terapia).
3. A TCC é colaborativa
Durante as sessões de TCC, tanto paciente quanto psicólogo participam ativamente, estabelecendo uma “troca” de informações.
Ambos têm um papel importante no tratamento.
Cabe ao paciente relatar suas dificuldades, explicando como o problema que o motivou à busca por terapia o afeta em seu cotidiano. Além disso, o paciente irá avaliar se as ferramentas usadas pelo terapeuta parecem adequadas à sua situação e rotina, dar feedbacks sobre o seu desenvolvimento e comentar sobre o que achou que ajudou na sessão e o que não ajudou.
Já ao psicólogo, cabe transmitir seu conhecimento sobre a TCC, ensinando as ferramentas que proporcionam o gerenciamento dos sintomas apontados pelo paciente.
Para você ter uma ideia melhor da dinâmica da terapia cognitivo comportamental, considere que, para ela funcionar, paciente e terapeuta trabalham em conjunto, como se estivessem envolvidos em um projeto colaborativo.
Por conta disso, diferente de outras terapias da fala, na TCC o psicólogo interfere bastante — principalmente nos estágios iniciais — fazendo perguntas e propondo exercícios (tarefas e experimentos) ao paciente.
Leitura sugerida: Consulta com psicólogo: como é a primeira sessão de terapia?
4. A terapia cognitiva comportamental é bastante prática
Como acabamos de mencionar, na TCC, o psicoterapeuta propõe que o paciente execute determinados experimentos, tarefas e estratégias — cujo objetivo é ajudar a identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento negativos.
Essa característica faz com que a TCC seja percebida como uma “terapia do fazer”, já que sugere experiências e utilização de recursos práticos, orientados à solução de problemas.
5. A TCC é racional
Quando falamos que a TCC auxilia o paciente a descobrir os pensamentos problemáticos — que causam sofrimento psicológico — não pretendemos dizer que a “cura” se dê através do pensamento positivo.
Na verdade, a positividade pode ser tóxica, em alguns casos, justamente porque não corresponde aos fatos.
A TCC não estimula a substituição de pensamentos negativos por “pensamentos felizes”. O que a terapia cognitivo comportamental propõe é a “investigação” dos pensamentos, colocando-os à prova, para que possam mostrar sua lógica.
Muitos de nossos pensamentos negativos são irracionais, automáticos. Os encaramos como “verdade absoluta” quando, na realidade, não passam de interpretações, de sentidos que atribuímos às nossas experiências.
Com as técnicas de TCC, o paciente passa a questionar seu raciocínio, buscando alternativas de interpretações que não são, necessariamente, confortáveis ou excessivamente otimistas. O objetivo é chegar a raciocínios mais coerentes, lógicos, racionais e saudáveis — que, por sua vez, devem se refletir na intensidade das emoções vivenciadas, bem como nos comportamentos adotados para lidar com situações desafiadoras.
6. O tratamento da TCC é relativamente breve
Anteriormente, comentamos que a TCC é colaborativa, implicando na atuação do psicólogo como responsável pela transmissão de conhecimentos que podem ser aplicados pelos pacientes em seu dia a dia, visando a solução dos problemas que prejudicam sua qualidade de vida.
Conforme a aprendizagem das estratégias de TCC são assimiladas, o paciente deve conquistar autonomia, conseguindo atuar como seu próprio terapeuta.
Em outras palavras: as sessões de TCC têm o intuito de ensinar técnicas e desenvolver habilidades que, gradualmente, se tornam recursos que o paciente pode utilizar e aprimorar de forma independente, sem a necessária supervisão do terapeuta.
Sendo assim, a duração do tratamento da TCC tem um limite de tempo. Claro, não se trata de um limite fixo, já que cada paciente demanda um número distinto de sessões — o que varia bastante, conforme o tipo de problema e adesão ao tratamento, por exemplo.
Por vezes, o paciente conquista resultados expressivos após 8 sessões. Em outros casos, pode precisar de 20 sessões para se sentir apto a gerenciar melhor seus sintomas.
Enfim, não há uma previsão exata da duração do tratamento. Mas, como a TCC pretende resolver problemas específicos, o tratamento é concluído quando as metas decididas no início da terapia são atingidas e as ferramentas aprendidas pelo paciente se mostram funcionais.
Você tem outras perguntas sobre a TCC? Tem dúvidas sobre algum aspecto da terapia que não abordamos neste texto? Então escreva para nós no campo dos comentários!