Anorexia e bulimia são transtornos alimentares muito associados a preocupações com a aparência física.
Embora possam acontecer em qualquer idade, independente do sexo, os dados disponíveis apontam as mulheres jovens como principais vítimas desses distúrbios.
A idade média de início dos episódios de bulimia e anorexia é entre os 14 e 19 anos — justamente num período em que a aceitação do corpo e a construção da identidade são questões em evidência.
Quais são as causas da anorexia e bulimia?
As causas exatas da anorexia e bulimia ainda são motivo de debates e pesquisas. No entanto, acredita-se que sejam o resultado de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais.
Alguns estudos estão centrados na investigação de fatores genéticos, por exemplo.
Há, inclusive, uma pesquisa com gêmeos, que aponta influência genética como fator de risco em 40% a 60% dos casos de anorexia, bulimia e compulsão alimentar.
Outras hipóteses incluem:
- insatisfação com a aparência física;
- influências culturais, que supervalorizam a magreza — enfatizada pela mídia, que associa corpos magros a um ideal de beleza e sucesso;
- bullying ou pressão de amigos ou familiares, em função do peso;
- tendência ao perfeccionismo;
- imagem corporal distorcida;
- ter sofrido abuso sexual, negligência ou abandono na infância;
- baixa autoestima;
- traumas emocionais ou eventos estressantes;
- presença de outras condições mentais, como depressão, ansiedade e transtorno borderline.
Quais são os comportamentos, sinais e sintomas associados à anorexia?
Embora anorexia e bulimia apresentem certos sintomas em comum, vamos falar dos dois distúrbios separadamente.
Assim, ficará claro onde as condições se diferenciam.
Também vale mencionar que algumas pessoas vivenciam tanto a anorexia quanto a bulimia.
Sintomas psicológicos de anorexia:
- Obsessão com aparência e forma física.
- Percepção de si como uma pessoa “gorda” (mesmo quando está muito abaixo do peso considerado normal).
- Irritabilidade.
- Rígido controle sobre a ingestão de alimentos — por meio de dietas restritivas ou jejum.
- Pular refeições ou se recusar a comer.
- Medo intenso de ganhar peso.
- Frequente verificação no espelho, para detectar mudanças no corpo;
- Prática excessiva de atividades físicas.
- Sentimentos de culpa e vergonha ao comer.
- Pensamentos obsessivos sobre comida e dieta.
- Esconder o corpo com roupas largas.
- Dificuldade de concentração (devido à falta de energia).
- Depressão.
- Ansiedade.
- Isolamento social.
- Baixa autoestima e baixa autoconfiança.
Sintomas físicos da anorexia:
- Perda de peso significativa em um curto período de tempo.
- Aparência muito magra.
- Pele seca e amarelada.
- Queda de cabelo ou fios finos e quebradiços.
- Cárie dentária.
- Mau hálito.
- Arritmia ou batimentos cardíacos irregulares.
- Pressão sanguínea baixa.
- Tonturas e desmaios.
- Fraqueza.
- Cansaço excessivo.
- Desidratação.
- Ausência de menstruação.
- Insônia.
- Intolerância ao frio.
- Dores de cabeça.
- Dores abdominais.
- Baixa libido.
Quais são os comportamentos, sinais e sintomas associados à bulimia?
Diferente da anorexia, que leva a pessoa a se privar de refeições, a bulimia é marcada por episódios de excessos alimentares.
A preocupação com o peso também existe. Então, para evitar que as calorias ingeridas prejudiquem a forma física, pessoas bulímicas podem adotar comportamentos compensatórios inadequados.
Nesse ponto, de acordo com especialistas, a bulimia pode ser de dois tipos:
1. Bulimia purgante
A pessoa provoca vômitos após os episódios de compulsão alimentar.
Também pode fazer uso de laxantes, diuréticos e enemas.
2. Bulimia não purgativa
Exercícios físicos extremos e períodos de jejum são adotados como estratégia para compensar os excessos alimentares.
Sintomas comportamentais e psicológicos da bulimia:
- Foco no peso, dieta e contagem de calorias.
- Evitar comer na frente dos outros.
- Comer demais, a ponto de sentir desconforto.
- Comer escondido.
- Ir ao banheiro logo após às refeições.
- Baixa autoestima.
- Mudanças de humor.
- Retraimento social.
- Depressão.
- Ansiedade.
Sintomas físicos da bulimia:
- Perceptíveis oscilações de peso.
- Problemas com órgãos internos vitais devido à falta de minerais essenciais, vitaminas e outros nutrientes.
- Calos nos nós dos dedos ou nas costas das mãos, ocasionados pela indução de vômitos.
- Problemas dentários.
- Dor de garganta.
- Glândulas inchadas no pescoço e rosto;
- Refluxo gastroesofágico.
- Menstruação irregular,
- Distúrbios do sono.
- Fadiga.
- Desmaios.
- Dores e cãibras musculares.
- Olhos vermelhos.
- Pele seca.
Quais são as possíveis complicações da anorexia e bulimia?
Se não forem tratadas, tanto a anorexia quanto a bulimia podem causar severos danos à saúde, incluindo:
- Osteoporose.
- Infertilidade (quando há concepção, são significativos os riscos de aborto espontâneo ou de nascimento prematuro do bebê).
- Pressão arterial irregular.
- Lesões cardíacas.
- Anemia.
- Danos permanentes ao estômago e intestino.
- Insuficiência renal.
- Baixa resistência do sistema imunológico a doenças, deixando a pessoa vulnerável a infecções.
- Problemas neurológicos.
- Transtornos de personalidade.
- Transtornos de humor.
- Transtornos obsessivo compulsivos.
- Problemas de relacionamento.
- Automutilação.
- Pensamentos suicidas ou tentativas de suicídio.
É possível que uma pessoa com transtorno alimentar consiga se recuperar e voltar à vida saudável.
No entanto, conforme o transtorno progride, é muito difícil que essa recuperação aconteça sem ajuda de profissionais de saúde e apoio familiar.
Em geral, o tratamento para anorexia e bulimia envolve mudanças no estilo de vida, terapia e uso de medicamentos.
Leitura indicada: Anorexia: como ajudar alguém que sofre com o transtorno?
Material de apoio para lidar com anorexia e bulimia
Se você, ou alguém próximo, está enfrentando problemas que se assemelham às características de anorexia e bulimia que destacamos neste texto, é fundamental procurar ajuda de um psicólogo. Isso porque, lidar com a condição, sem auxílio profissional, é extremamente complicado.
Além do tratamento psicológico, é interessante buscar mais informações sobre os transtorno alimentares. Existem bons textos e livros sobre o assunto, que podem te ajudar.
Abaixo, destacamos algumas obras de referência:
1. Fazendo as pazes com o corpo
Livro de Daiana Garbin. Editora Sextante.
Confira a sinopse, disponível no site da editora:
“Daiana Garbin passou 22 anos odiando o próprio corpo. Sentia-se eternamente inadequada, desejava ser reta, seca. Só pele e osso. Tinha vergonha de si mesma e de seu descontrole diante da comida.
Encarou dietas hiper-restritivas, passou por três cirurgias plásticas, fez procedimentos estéticos agressivos e ficou viciada em remédios para emagrecer – sempre acreditando que um corpo magro lhe traria paz e felicidade.
Foi só depois de muito sofrimento que ela descobriu que a insatisfação profunda que sentia em relação ao corpo não era vaidade nem frescura: era doença.
Diagnosticada com transtorno alimentar, Daiana decidiu compartilhar sua história para ajudar as pessoas que sofrem em silêncio por querer se enquadrar em padrões inatingíveis e acabam deixando de aproveitar a própria vida.
Neste livro, ela revela o longo caminho que percorreu para aprender a ficar em paz com seu corpo e com a comida – os altos e baixos, o que deu certo e o que deu errado, as vezes que quis desistir e o momento em que percebeu que existia uma saída.
Trazendo entrevistas com nutricionistas, psicólogos e psiquiatras, ‘Fazendo as pazes com o corpo’ provoca uma necessária discussão sobre o perigo dos transtornos alimentares, o lado nocivo das redes sociais, o padrão de beleza irreal imposto pela mídia e o papel da autocompaixão no processo de cura.”
2. Anorexia e bulimia: esclarecendo suas dúvidas
Livro escrito pela terapeuta Julia Buckroyd e publicado pela Editora Ágora.
Destacamos o texto da sinopse, conforme site da editora:
“Nos últimos 25 anos, a anorexia e a bulimia transformaram-se em endemias entre os jovens do mundo ocidental.
O livro traz informações atualizadas sobre o assunto, que ainda é pouco conhecido e que atinge uma enorme camada de jovens entre 15 e 25 anos de idade.
A autora esclarece como a sociedade e a cultura colaboram com a criação dessas doenças, descreve os sintomas, as conseqüências e também como ajudar no âmbito familiar e profissional.”
3. Dominando anorexia: experiências e desafios enfrentados por adolescentes e seus familiares
Livro escrito por Christine Halse (pesquisadora-chefe do projeto “Múltiplas Perspectivas de Distúrbios Alimentares em Meninas” na Universidade de Western Sydney, Austrália), Anne Honey (pesquisadora de temas pertinentes à saúde mental e terapia ocupacional) e Desiree Boughtwood (terapeuta e autora de tese de doutorado intitulada “Anorexia nervosa na clínica”.
A obra faz parte do catálogo da Editora M. Books que, em seu site, disponibiliza a seguinte resumo:
“Estruturado em torno de relatos da vida real, o livro mostra as diversas faces que a anorexia assume e oferece uma visão prática da experiência vivenciada por adolescentes afetadas pela anorexia.
O livro mostra que as narrativas particulares de quem apresenta o problema devem ser o ponto de partida para o entendimento da doença.
Cada capítulo do livro traz a história de uma adolescente com anorexia nervosa e quadros que fornecem uma visão multidisciplinar e atual sobre a doença, apresentando as novas descobertas feitas pelas pesquisas das autoras sobre o assunto.
’Dominando anorexia’ é uma obra acessível para qualquer um que deseje entender melhor este transtorno alimentar.”
Leitura adicional sugerida: 11 dicas de autoajuda para lidar com transtornos alimentares (texto disponível aqui no blog).
Outras dúvidas sobre anorexia e bulimia
Procuramos reunir o máximo de informações relevantes para trazer esclarecimentos.
Mas sabemos que um texto não é suficiente para solucionar todas as dúvidas.
Portanto, fique à vontade para usar o campo dos comentários e deixar outras perguntas sobre os transtornos.
Os psicólogos da Clínica de Psicologia Nodari buscarão respondê-las o mais rápido possível.
Clínica de Psicologia Especializada em Terapia Cognitivo Comportamental.
Está localizada na Vila Mariana/SP.
Texto atualizado em 24 de março de 2022.
4Comentários
Elaine Souza Barauna
10/10/2021Há 5 meses minha filha de apenas 12 anos foi diagnosticada com Anorexia Nervosa, está muito magra e ainda sim se acha gorda…. está fazendo terapia e agora consulta com um nutrologo, mas na vdd tenho a impressão que cada dia ela piora … me mande mais matérias sobre assunto … pois tô fazendo de tudo … Não sei mais o que fazer ..
Clínica de Psicologia Nodari
11/10/2021Olá! O tratamento da anorexia é realmente um desafio, porque implica em não dar para a pessoa o que ela quer (que seria ficar magra). Até chegar no momento em que ela começa a entender porque é um problema, que é uma busca por algo que nunca irá alcançar e que ela precisa se aceitar como é, pode levar algum tempo.
Hoje em dia, existem estudos comprovando que o tratamento mais efetivo é com acompanhamento com psiquiatra (no caso dela, um psiquiatra infantil) e com Terapia Cognitivo Comportamental (ou TCC), de preferência com algum psicólogo que tenha feito especialização em TCC na infância e adolescência ou em transtornos alimentares. Porque, apesar de qualquer profissional poder tratar, considero muito importante, principalmente nessa idade, buscar o que terá mais garantias de efetividade.
Vitória
26/04/2022Que tipo de pergunta, eu posso fazer, para uma pessoa que eu não tenho tanta intimidade; que enfrenta esse transtorno. Eu quero muito ajudar. Mas, não sei o que falar sabe. O que fazer?
Clínica de Psicologia Nodari
29/04/2022Olá, Vitória.
Nossa! Já é difícil a gente conseguir ajudar alguém que temos intimidade, quem não temos então…
Acho válido você ter em mente que o seu apoio sempre será limitado e que não terá como resolver o problema de ninguém e nesse caso, principalmente, apenas os profissionais especialistas no assunto podem ajudar efetivamente.
De qualquer forma, seguem algumas sugestões de perguntas. “Você quer falar a respeito disso comigo?”, “Posso te ajudar em alguma coisa?”, “Como você se sente em relação a isso?”, “Você já pensou em fazer terapia?”