Aprenda a identificar sinais de vício em internet, saiba quais são os riscos associados ao uso abusivo de tecnologia e como o transtorno pode ser tratado.
O vício em internet — também chamado de transtorno de dependência da internet ou uso patológico de internet — é motivo de debate entre profissionais da saúde mental.
Embora não seja reconhecido como um distúrbio pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o assunto conta com ampla e crescente pesquisa.
Discordâncias quanto aos critérios diagnósticos também dificultam a compreensão no que se refere à dimensão do problema.
Segundo algumas estatísticas, o distúrbio afeta até 8,2% da população mundial. Já outras, calculam a prevalência em 38% da população.
Independente dos números, as consequências do vício em internet podem ser nefastas.
E, como a acesso à rede, por meio de computadores e smartphones, cresce exponencialmente, precisamos considerar que os riscos de abuso também se multiplicam.
Neste artigo, aprenda a identificar sinais de dependência, quais são os perigos associados ao uso patológico de internet e como o transtorno pode ser tratado.
Vício em internet: sintomas da dependência
Passar muitas horas conectado não faz e de você, necessariamente, um viciado em internet.
Precisamos ter em mente que, atualmente, muitos trabalhos, formas de comunicação, diversão, compras e aquisição de informações estão atrelados às facilidades da rede.
Ou seja, se o padrão para determinar o uso patológico fosse o tempo de consumo de internet, poucos de nós escapariam das estatísticas de dependência.
Mas o tempo, apesar de ser uma evidência adicional, não é o critério básico para considerar a possibilidade do transtorno.
O principal indício de que há algo errado é quando o uso se torna excessivo a ponto de prejudicar a vida social, as atividades profissionais e experiências do dia a dia.
Dessa forma, é possível identificar uma pessoa com transtorno de dependência da internet quando seu comportamento é caracterizado por:
- pensamento obsessivo em estar conectado;
- aumento crescente do tempo on-line;
- tentativas infrutíferas de parar ou diminuir o uso de internet;
- mentiras (para familiares, amigos ou psicólogo) sobre o tempo gasto com internet;
- mau-humor, irritação, ansiedade ou depressão quando o acesso à internet é inviabilizado;
- deixar de frequentar lugares, apenas porque não oferecem wi-fi;
- utilização da internet como válvula de escape para os problemas;
- queda no rendimento escolar ou profissional, em função do tempo gasto on-line;
- isolamento social em favor de passar mais tempo conectado;
- desinteresse em relacionamentos (com amigos, familiares, colegas e parceiros amorosos);
- dormir pouco (ou não dormir), pois sente a necessidade de estar on-line;
- dificuldade de interromper o uso, perdendo a noção das horas ou ultrapassando o limite de tempo pretendido.
“As coisas mudaram quando meu telefone me superou. Depois que o Facebook teve um lugar permanente no meu bolso, ele se tornou um portal permanente — capaz de me transportar para longe da minha família. Mesmo se estivéssemos fisicamente na mesma sala, eu não estava necessariamente lá com eles. O Facebook não era mais simplesmente uma distração, mas uma forma de escapismo para o dia todo.” — Wendy Speake
Note que todos esses sintomas apresentam algo em comum: a perda do controle.
O vício em internet passa a dominar a vida do indivíduo. Porém, ele pode demorar a perceber essa condição, já que o uso da tecnologia é algo trivial, presente na vida das pessoas com as quais convive.
O autoengano de que experimenta uma condição normal, de que “todos são assim”, é uma perigosa cilada.
Dar atenção aos comentários de pessoas próximas — que reclamam do uso excessivo, da ausência de participação em conversas, da consulta compulsiva ao celular… — pode ser um estímulo à autoanálise mais honesta.
“A tecnologia é sedutora quando o que oferece atende às nossas vulnerabilidades humanas. E, ao que parece, somos muito vulneráveis, de fato. Estamos sozinhos, mas tememos a intimidade. Conexões digitais e o robô sociável podem oferecer a ilusão de companheirismo sem as demandas de amizade. Nossa vida em rede permite que nos escondamos uns dos outros, mesmo quando estamos amarrados um ao outro. Preferimos enviar mensagens de texto do que conversar.” — Sherry Turkle
Efeitos do vício em internet
As consequências negativas do uso patológico de internet incluem:
- problemas financeiros (devido às compras on-line ou perda de trabalhos em função do vício, por exemplo);
- negligência com dependentes (crianças e bebês);
- fadiga;
- ganho ou perda significativa de peso;
- descuido com a higiene pessoal;
- baixa autoestima;
- agressividade;
- irritabilidade;
- olhos secos e outros problemas de visão;
- dores de cabeça ou crises de enxaqueca;
- problemas de coluna;
- sentimentos de culpa;
- procrastinação;
- depressão;
- rupturas de relacionamentos;
- fobia social;
- ansiedade;
- insônia ou má qualidade do sono;
- síndrome do túnel do carpo;
- estresse.
“Nossos sentimentos de ansiedade são sinais genuínos, mas confusos de que algo está errado e, portanto, precisam ser ouvidos e interpretados pacientemente — processos que dificilmente serão concluídos quando temos à disposição, no computador, uma das ferramentas mais poderosas de distração já inventada. Toda a internet é, em certo sentido, pornográfica, veiculadora de uma excitação constante à qual não temos capacidade inata de resistir, um sedutor que nos conduz por caminhos que, em sua maioria, nada fazem para atender às nossas reais necessidades.” — Alain de Botton
Tratamento para o vício em internet
O primeiro passo, tal como em outros vícios, é reconhecer que existe o problema.
Com essa consciência, mudanças no estilo de vida devem ser ponderadas. Confira algumas sugestões:
- não usar o celular quando estiver na companhia de outras pessoas;
- determinar um momento específico do dia para consultar as redes sociais;
- modificar os horários habituais de acesso à internet, de forma a interromper padrões;
- estabelecer metas realistas quanto à redução de tempo on-line;
- deletar aplicativos cuja moderação do uso foge ao controle;
- desenvolver um hobby (não virtual, obviamente);
- fazer atividades físicas.
Conhece a regra 20-20-20?
Se você passa muito tempo conectado, precisa tomar cuidado com a saúde dos olhos!
Para evitar a fadiga ocular (ou síndrome da visão de computador), que causa dores de cabeça, visão turva, secura e vermelhidão dos olhos, aplique esta regra:
- A cada 20 minutos que você passa olhando para uma tela, faça uma pausa.
- Olhe para cima, por 20 segundos.
- Depois, foque em um objeto distante (no mínimo 6 metros) por mais 20 segundos.
Dica extra: Unfollow Terapêutico
Passe um “pente fino” nas suas redes sociais!
Pergunte a você mesmo:
- O perfil me faz desejar ser alguém que não sou?
- Fico infeliz com meu corpo ao ver as postagens desta pessoa?
- Me sinto insatisfeito com minhas conquistas ao compará-las com o que vejo no feed?
- O conteúdo instiga meus impulsos consumistas?
- Me sinto aborrecido/ofendido com os comentários habituais do perfil?
Se a resposta for sim, dê unfollow!
Pare de seguir quem não te faz bem!
Deixe o caminho livre para postagens que promovam reflexões saudáveis, criatividade, bom humor, conhecimento útil e empoderamento.
Sua saúde mental agradece!
A abstinência total não é recomendada — até porque ela dificilmente será mantida.
A internet não pode ser excluída definitivamente da vida, tal como uma droga, pois seu uso é intrínseco a situações cotidianas.
Logo, o ideal é que viciado em internet supere sua compulsão a partir do desenvolvimento de estratégias de enfrentamento.
Com ajuda de um terapeuta, esse processo pode se tornar mais fácil. Uma das principais recomendações, nesse sentido, é buscar por um profissional que trabalhe com técnicas de terapia cognitivo comportamental.
“Uma boa terapia ajuda você a desenvolver um senso de ironia sobre sua vida, de modo que, quando você começa a repetir padrões antigos e inúteis, algo dentro de você diz: ‘Lá vai você de novo; vamos parar com isso. Você pode fazer algo diferente’. Muitas vezes, o primeiro passo para fazer algo diferente é desenvolver a capacidade de não agir, de ficar quieto e refletir. — Sherry Turkle
Também pode ser útil participar de grupos de apoio ou fazer terapia familiar.
Dependendo do nível de comprometimento da saúde mental, medicamentos (antidepressivos e ansiolíticos) serão uma boa opção complementar ao tratamento.
Como o vício em internet ainda carece de pesquisas conclusivas, essas alternativas de tratamento não são definitivas. Porém, sinalizam um caminho possível para o reencontro do “mundo real” — e seus insubstituíveis prazeres.
E você, tem alguma dica adicional que o ajuda a evitar o consumo excessivo de internet? Então compartilhe nos comentários!
Respostas de 3
Gostei da matéria, e vou me esforçar a utiliza pouco a internet.
Bom dia, Deusdado.
Que bom que gostou da matéria. A terapia pode te auxiliar a lidar com essa situação.
Conheço pessoas que trabalham com a internet. O que tem me causado mal estar é que nunca prestam atenção sem ser ao smartphone, estão sempre sonolenta mas ficam até madrugada conectado. Alegando ser necessário, mas trocam o foco constantemente como se estivesse lendo a linha do tempo do Facebook. Se sentem mal após alguns dias de confecção mais seguido como nos finais de semana. Dores nos braços e coluna até palpitação cardíaca. Ficam muito eufórica com número de Curtidas e muito frustradas quando não acontece. Mas o mais curioso é que todas dizem não saberem mais o que são e o que gostam de tanta coisa que ouviram.